Respeitável público... Educação não é mercadoria, é...
Ricardo Guarnieri
Dizem que o melhor negócio do mundo quando bem administrado é um banco, e o segundo melhor, mesmo sendo mal administrado ainda continua sendo um banco. Pois então, eu colocaria entre esses dois negócios um terceiro elemento, não sei se ficaria em primeiro, porque contra banqueiro nem cancro mole mal curado, mas que em segundo, seria uma briga feia, isso sim seria. Pelo menos não temos histórico desde a flexibilização da democratização da educação superior pela 9394/96 noticia de que alguma instituição dessas tenha aberto concordata.
Todo negócio tem dois princípios básicos se quiser ter vida longa no mercado:
1- Investir nos recursos humanos;
2- Ser ágil no pós venda.
Entretanto na educação é o contrário.
1- Trocamos um mestre por dois..., e melhor ainda, um doutor por três... (primeiro princípio: na educação é nulo).
2- Quem é que devolve os profissionais com defeito para o seu fabricante? (segundo princípio: na educação isso é irrelevante).
Detalhe, o investimento em tecnologia se resume a uma tecnologia secular: GLS (giz, lousa e saliva), e quando ingripa é só trocar, afinal tem um montão dessas peças a disposição, reserva de mercado muito bem feito após a democratização do saber: a saber... “A educação é a única área de investimento que tem 100% de certezas, ou seja, não é necessário investir nos recursos humanos e nem trocar a mercadoria com defeito.”
Pois é meu caro, a educação virou um negócio, e conseqüentemente um produto e mais ainda detidamente uma mercadoria. Espantado? Talvez não. Mas eu confesso que ainda não me acostumei a essa idéia, e também não estou me esforçando muito para isso, pelo menos não ainda (vai saber, de repente ganho algumas açõeszinhas na bolsa. – pois é, agora universidade tem capital aberto – e universidade é pra dar lucro? – bom, dizem que são os novos tempos).
Tempos novos e problemas velhos, equação quase impossível desse animal com status de humano, mas as questões persistem, pelo menos por enquanto.
Dia desses os estudantes sentido baixada, mas que agora a direção rumou ao centro do pão de queijo me questionaram diante dos gritos dos... Isso é que eu ainda não sei, inclusive fiz uma indagação a eles. __ Vocês lutam como estudantes ou como consumidores?
Explico-me melhor, pois se tudo não passa de um negócio, então você também não passa de um mero cliente, a não ser que a resistência ainda seja a sua arma contra todo esse negócio que a china há de abençoar.
Se dependesse das minhas esperanças diria que tudo não passa de um fogo sem luz, mas não foi o que vi (digo, vi porque não me agüentei, tive que viver isso no e do chão da liberdade). Uma aluna ainda me indagou. __ Hoje não haverá aula? Entendi a sua pergunta, mas preferi não ser direto e respondi. __ Como não? Olha que aula mais linda, essa é pra entrar na história, e você terá a oportunidade de participar não como coadjuvante, mas com um pedaço da sua liberdade, que se juntada com as demais teremos uma liberdade de todos. - Rimos um pro outro e logo em seguida ela sumiu na multidão.
Sei que alguns queriam apenas gritar e comer pipoca, ou mesmo tirar fotos para o “face”, me lembrei muito dos caras pintadas, mas é isso mesmo, cada um ao seu tempo. Outras imagens ainda mais lindas, os oprimidos do holerite das janelas dos sues sacros espaços, chamada sala de aula (que não tinha mais...)
Estudantes soltando aquele grito engasgado de tanto tempo, sem jeito as vezes, mas insistiam e isso já é mais do que o suficiente. Vi ali uma coisa, estamos diante de um paradoxo: de um lado estudantes e do outro, empresários.
Sei que essa batalha não é fácil, mas disso tudo tirei uma lição: o que querem de nós é um comportamento de consumidores, pois esse, briga com o bolso. Por isso, temos então que transvalorar o valor, porque estudante que se preza luta com a alma na ponta da língua que nasce lá no fundão da nossa consciência de homem histórico e presente das suas demandas de continuar existindo.
Estudantes do nosso Brasil, não desistam...