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quarta-feira, 20 de março de 2013

Tempo é vida... a banda passa...



Tempo é vida... a banda passa...

Ricardo Guarnieri

 

“Estava à toa na vida... Pra ver a banda passar... O homem sério que contava dinheiro parou...” Mesmo soltos, os versos do Chico são geniais, quando lidos e ouvidos pelo todo mais ainda, não pelo todo, mas pelo deleite estético. Assim é a linguagem, ela nunca se encerra em si mesmo.

As vezes dizemos tudo que queremos, e o resultado é que ninguém entendeu o que de fato gostaríamos de ter dito. Outras vezes, o empréstimo que fazemos de um todo é o suficiente para dizer o que nem se quer tínhamos a pretensão de dizer.

        É por isso que levar a vida a sério é o mesmo que pensar que é possível parar a banda. Por isso, entre estar à toa na vida ou ter uma vida à toa não faz diferença nenhuma, a não ser pro discurso do convencimento do próprio sujeito, que, ou está assujeitado, ou asssujeintando está.

        ...

        Analisemos o que Clarice Lispector diz, não exatamente analiticamente, muito menos hermeneuticamente, mas apenas como exercício de quem para um pouquinho e pensa. “Liberdade é pouco. O que eu desejo ainda não tem nome.” Talvez o entendimento acerca da liberdade seja o mais enigmático na nossa língua, afinal como também poetizou Cecília Meireles, Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.” 

        É quase uma heresia tentar explicar esses dois aforismos, bom, não é quase, é. Mas enfim, como nada é sagrado a não ser o simples fato de que alguém assim o disse, e outro alguém assim aceitou, vamos então partir para o profano.

        Liberdade é uma palavra ou um sentimento? Um sentimento que de repente a humanidade nomeou de liberdade para exprimir aquilo que tanto angustiava os homens? Ou seria apenas uma palavra para dizer aquilo que nunca seríamos capazes de sentir na sua totalidade simplesmente pela falta do que dizer, então criamos mais uma palavra incompleta?

        O desejo nunca está completo, e por mais liberdade que conquistemos, ainda falta dizer o que não tem nome. E é dessa tautologia que nos alimentamos. Tirar isso do humano não é uma possibilidade, ou então, simplesmente não existiria humano. Fogo, terra, ar, água, elementos essenciais para vida orgânica, mas incompletas para o bicho humano fazedor de incompletudes constituído de totais efêmeros e eternos incabamentos.

        ...

        As vezes falamos demais e morremos pela boca, outras vezes deixamos de dizer algo e também morremos pela falta de boca.

        Todos querem ter razão, ser donos da verdade, ou mesmo como dizem os pseudo democráticos, “quero apenas dizer a minha verdade”, como se fosse possível todo mundo ter uma verdade e simplesmente a sociedade chancelasse essa torre de Babel de todas as idiossincrasias. Assim dormiríamos felizes para sempre.

        Daí mais um engano do homem moderno e tecnocrático. Mas até aí qual o problema? Nenhum, afinal a verdade se transforma em apenas mais um dos fetiches e logo em seguida um produto a ser comprado e consumido.  

        É nesse ponto que entra Wittgenstein quando diz, "As fronteiras da minha linguagem são as fronteiras do meu universo." Ou seja: Que tamanho tem a sua linguagem? Qual o principio ético que rege a sua introdução? Em que tribuna você tem construído seus discursos? Qual o limiar entre o seu universo e a sua incompleta construção de relações?

        Somente suas respostas poderão dizer alguma coisa. Sei que no final tudo é linguagem. Contudo é por ela que podemos ter a cultura do diálogo e do fazimento estético, onde o tempo é a vida.

Ou uma cultura do tempo a ganhar, na qual o homem será sempre sério sem tempo de parar pra ver a banda passar porque precisava continuar contando dinheiro.
Mesmo assim, sempre sim, pois somente a vida merece o meu sim.