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segunda-feira, 21 de maio de 2012

Agora eu sei que de nada sei...




Agora eu sei que de nada sei...
Ricardo Guarnieri
Como não desistir, se tudo já está marcado para acabar? Ou pior, por que tentar algo, se no final, o que nos resta é um belo de um nada? Talvez o leitor pense que eu esteja sendo pessimista, mas até isso não é uma verdade tão absoluta assim, afinal tanto o pessimismo quanto o otimismo estão do mesmo lado de uma mesma sorte. No entanto o realismo não passa de uma invenção da consciência social.
Outro dia me lembrava de uma memória afetiva e pensei nela como uma possível possibilidade de desalojamento para essas questões impertinentes que me esclarecia nos meus assombros. Há mais ou menos 15 anos atrás estive numa cidadezinha de Minas, chamada Paraguaçu. Lembro-me como se fosse agora, eu, meus primos Márcio e Tiaguinho, e um amigo da adolescência, Rodrigo. Estávamos caminhando pela cidade quando avistamos uma montanha lá no horizonte, um sol quente e convidativo.
__ E aí moçada, o que acham de subirmos aquele morro?
Acho que todos sentimos a mesma energia, tanto que o convite foi prontamente aceito por todos.
Ainda nessa mesma toada, estávamos lembrando outras memórias afetivas dessa mesma época, digo no plural porque estava nesse final de semana aqui em casa um grande amigo, o Fravinho, também da época da adolescência, (amizade que persiste na efemeridade do tempo gastoso).
E lá íamos nós: namorar, sair, beijar, ficar, aprontar, enfim numa cidadezinha próxima a Itapuí, com um nome simpático e indígena, Boracéia (não é a praia paulista, essa é a do interior e do centro do estado). E o mais impressionante era o nosso meio de locomoção: pé dois. Isso mesmo, a pé por 7 km, desses, sendo que quatro deles era em uma vicinal sem nenhuma iluminação. E isso tudo acontecia nas noites de sábado, acompanhado por luas e frios.
Ah, também tinha e ainda tem no meio do caminho uma balsa atravessando o rio Tietê, (e hoje com carro e Sharon Stone do outro lado, vou precisar meditar os prós e contras). Não tem explicação, simplesmente era um gozo que ainda hoje não tenho palavras.
Daí volto às questões iniciais desses finais que se iniciam constantemente. Era um tempo de pouco conhecimento e muita inconseqüência. Sobrava coragem e pouca prudência. Inspirava amores e sobrava paixões. Não tinha horário, era um tempo que se fazia de tudo e mais um pouco em quaisquer momentos. Era tudo de mais sem ter nada de menos.
Passou-se mais de 15 anos e o que sobrou? Não sei, sabendo muito mais e, depois de tudo isso, ainda querem que sejamos brasileiros e não desistamos nunca. Acho que entendi. Muito obrigado por me deixar falar. (...) Com certeza. Posso esperar a minha vez. O patrão primeiro. Sei aguardar o meu momento.
É tudo isso que o conhecimento nos traz, levando consigo tudo o mais debaixo do nosso nariz. (...) Tudo isso pra dizer que o conhecimento nos deixa muito mais racional perdendo toda espontaneidade que só a vida possibilita... Santa ignorância que persiste.