Agora eu sei que de nada sei...
Ricardo Guarnieri
Como não desistir, se tudo já está marcado para
acabar? Ou pior, por que tentar algo, se no final, o que nos resta é um belo de
um nada? Talvez o leitor pense que eu esteja sendo pessimista, mas até isso não
é uma verdade tão absoluta assim, afinal tanto o pessimismo quanto o otimismo
estão do mesmo lado de uma mesma sorte. No entanto o realismo não passa de uma
invenção da consciência social.
Outro dia me lembrava de uma memória afetiva e
pensei nela como uma possível possibilidade de desalojamento para essas
questões impertinentes que me esclarecia nos meus assombros. Há mais ou menos
15 anos atrás estive numa cidadezinha de Minas, chamada Paraguaçu. Lembro-me
como se fosse agora, eu, meus primos Márcio e Tiaguinho, e um amigo da
adolescência, Rodrigo. Estávamos caminhando pela cidade quando avistamos uma
montanha lá no horizonte, um sol quente e convidativo.
__ E aí moçada, o que acham de subirmos aquele
morro?
Acho que todos sentimos a mesma energia, tanto que
o convite foi prontamente aceito por todos.
Ainda nessa mesma toada, estávamos lembrando outras
memórias afetivas dessa mesma época, digo no plural porque estava nesse final de
semana aqui em casa um grande amigo, o Fravinho, também da época da
adolescência, (amizade que persiste na efemeridade do tempo gastoso).
E lá íamos nós: namorar, sair, beijar, ficar,
aprontar, enfim numa cidadezinha próxima a Itapuí, com um nome simpático e
indígena, Boracéia (não é a praia paulista, essa é a do interior e do centro do
estado). E o mais impressionante era o nosso meio de locomoção: pé dois. Isso
mesmo, a pé por 7 km, desses, sendo que quatro deles era em uma vicinal sem
nenhuma iluminação. E isso tudo acontecia nas noites de sábado, acompanhado por
luas e frios.
Ah, também tinha e ainda tem no meio do caminho uma
balsa atravessando o rio Tietê, (e hoje com carro e Sharon Stone do outro lado,
vou precisar meditar os prós e contras). Não tem explicação, simplesmente era
um gozo que ainda hoje não tenho palavras.
Daí volto às questões iniciais desses finais que se
iniciam constantemente. Era um tempo de pouco conhecimento e muita
inconseqüência. Sobrava coragem e pouca prudência. Inspirava amores e sobrava paixões.
Não tinha horário, era um tempo que se fazia de tudo e mais um pouco em
quaisquer momentos. Era tudo de mais sem ter nada de menos.
Passou-se mais de 15 anos e o que sobrou? Não sei,
sabendo muito mais e, depois de tudo isso, ainda querem que sejamos brasileiros
e não desistamos nunca. Acho que entendi. Muito obrigado por me deixar falar.
(...) Com certeza. Posso esperar a minha vez. O patrão primeiro. Sei aguardar o
meu momento.
É tudo isso que o conhecimento nos traz, levando consigo
tudo o mais debaixo do nosso nariz. (...) Tudo isso pra dizer que o
conhecimento nos deixa muito mais racional perdendo toda espontaneidade que só
a vida possibilita... Santa ignorância que persiste.