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quinta-feira, 30 de agosto de 2012

Eu te perdôo por me odiar

 

 
Eu te perdôo por me odiar
Ricardo Guarnieri
 
__ Você mentiu para mim.
De repente alguém te profere essa sentença. E com todos os argumentos, dos mais inquestionáveis possíveis e improváveis você não sabe como sair dessa, restando-lhe apenas ficar cabisbaixo, avermelhar-se e entregar-se ao acusador, arauto da moralidade e da verdade ilibada, de um sujeito que bate no peito e sorri da sua verdade nua e crua.
Tudo bem, você poderia ter outra reação, afinal a melhor defesa é o ataque. E assim o show estaria garantido com todas as meias verdades, cada qual defendendo a sua, mesmo porque a dor do outro sempre é mais dolorida.
Partimos do pressuposto aonde cada um tem a sua verdade. Contudo, logicamente é impossível uma verdade para cada um, no máximo o que conseguimos, são opiniões e bem da meia boca. Inteiramente enganadas de verdades.
Os gregos, que tanto se preocuparam com a verdade faziam essa diferenciação, para eles, isso que nós chamamos da verdade de cada um, é opinião, enquanto que aquela que teria validade universal, ou seja, a verdade verdadeiramente verdadeira, jamais se revelaria, pelo menos não tão facilmente como nos diz nossos juízos mesquinhos e imaturos.
Gosto da definição de verdade da Célia, uma querida amiga: “a verdade tem três versões, isto é, a sua, a do outro, e a verdade em si”.
Dado que jamais poderemos tocar a verdade na sua real verdadeira verdade, fico com Cazuza, “mentiras sinceras me interessam,” ao menos são verdades humanas e unicamente humanas. Empresa essa fadada ao fracasso, e mesmo consciente dela, continuo a buscar. Pergunto-me o porquê quase sempre, e respondo: a esperança não é chegar, mas é saber continuar esperançando.
E daí uma pergunta que fica e some:
Você mente? Antes que alguém conte uma mentira eu digo, não minto jamais, a verdade nem sempre (aprendi isso com um papa do qual não me lembro o nome). Por isso, da próxima vez que foste acusado de mentir, não se preocupe, a mentira é divina, não porque o papa nos deu jurisprudência, mas porque sem a mentira jamais teríamos criado a literatura, a poesia, a matemática, a filosofia, enfim, o conhecimento, afinal, quem a criou sabia exatamente o que estava fazendo.
O bom humor e o centro de oncologia do planeta advertem: mentir faz bem a saúde e preserva os dentes. Uma dica: tanto a verdade como a mentira tem um estoque a ser gasto, por isso distribuas bem, ou então, pode se tornar um Saraiva que ninguém agüenta por perto, ou um Paraná que só é levado a sério quando conta piadas.
É por essas e outras que jamais minto em relação a verdade. Sou do partido da verdade, custe o que custar, nem que para isso precise das minhas mentiras sinceras. Essa é a mais pura verdade, se é que te interessa, porque a mim interessa.