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quarta-feira, 21 de novembro de 2012

Realidade? Ser otimista ou pessimista? Eis...

 
 
Realidade? Ser otimista ou pessimista? Eis...
Ricardo Guarnieri
 
Tudo bem, eu reconheço, sou mais pessimista do que otimista, apesar de achar que estou mais para realista puritano do que pessimista construtivista. Otimismo nunca, a não ser quando preciso que a humanidade não desista dela mesma, e muitas vezes isso vem na forma de um anjo caído (é impressionante como isso cola em mim, talvez por isso pense na psicanálise, apesar de saber que só ouvir é muito pouco, lá vou eu puritinando outra vez...).
Aristotélicamente falando vamos entender os opostos entre o otimismo e o pessimismo:
Otimista: sujeito bem humorado; sempre vê saída naquilo que não existe, positivo diante das tragédias; se está ruim, pense que poderia ser pior (é só o joelho, poderia estar paralítico); é pobre, mas o que importa é ter uma família unida e principalmente com saúde; para os prósperos, a crise não é o limite mas a oportunidade para novos caminhos, descobertas, rumos, enfim, é na crise que nos fortalecemos; quando todo mundo diz que já acabou, vem o otimista de plantão e diz que essa é a chance que Deus está nos oferecendo para um novo recomeço, afinal o que importa é estar vivo. Tudo bem, já me convenci, o otimismo realmente levanta defunto, ou pelo menos os quase mortos, porque morto, morto ficará.
Pessimista: sujeito de mal com a vida; nunca vê uma boa saída para os problemas, ou seja, o ser humano é mau por natureza (Deus esqueceu de nós, ou nos abandonou mesmo, o que é o mais provável); a pobreza é a prova cabal da nossa incapacidade de vivermos como uma grande comunidade; quando tudo está ruim, lembre-se que depois tem o péssimo, o calamitoso, o trágico, e por fim, o fim; a crise não tem saída a não ser a própria ruína; de nada adianta o altruísmo, afinal ou estamos apenas alimentando o nosso ego, ou reproduzindo a pobreza enlatada e vendida como responsabilidade social. Enfim, para ser pessimista não é muito difícil, motivos são mils e não faltam outros mils.
Realista ou realidade: não sei se vou ser realista ou apenas dizer algumas coisas que seriam fatos da realidade (deixo para o leitor que terá mais inteligência para discernir, acrescentar ou mesmo retirar essas realidades do mundo i-real apresentado aqui nesse texto mal ou bem humorado) vamos então aos fatos:
1-   Metade ou 50% da riqueza do mundo está sob o controle de 1% da população mundial;
2-  O salário mínimo brasileiro equivale a ¼ ou 25% do que o DIEESE considera ser o necessário para uma vida mínima;
3-  O mundo produz 20% a mais de coisas que necessitaríamos para viver, enquanto 30% da população mundial morrem por desnutrição;
4-  Com o orçamento da OTAN seria possível acabar com a pobreza do mundo pelo menos duas vezes;
5-  As armas de fogo matam mais do que qualquer doença no mundo. Só no Brasil é assassinada uma pessoa a cada 10 minutos;
6-  Ainda matamos, segregamos, empobrecemos, dilaceramos as pessoas pela cor da pele;
7-  A homofobia é uma realidade, tanto que precisamos de leis especificas para defesa irrestrita da paz na orientação sexual;
8-  As mulheres continuam sendo vilipendiadas; ganhando menos; decepadas em seu prazer; excessivamente cobertas ou desnudadas, tudo em nome da liberdade arcaica cultural ou das exigências do mercado;
9-  Apesar de todo desenvolvimento tecnológico, uma revolução copernicana, no qual o século XX equivaleu aos demais, nunca fomos tão escravizados na perda do nosso tempo em detrimento do discurso da ordem e progresso;
10-      Ao contrário do que defende as democracias modernas em relação à liberdade de expressão, somente o cartão de crédito e um bom limite te fará livre.
11-       O espaço não é problema, mas é a garantia contratual e o respeito a propriedade privada que empurra 50% da população brasileira a moradias em falésias, barracos, pontes, especulação imobiliária, e toda sorte de um quadrado ou redondo que possa ser chamado de “meu”.
Realidade? Ser otimista ou pessimista? Eis...    
O poeta Ferreira Gullar diz que a vida é uma invenção, e nós podemos inventar tanto coisas boas como coisas ruins, e ele em particular prefere inventar a vida como algo bom, bonito, belo, enfim, ele é um otimista, porém órfão, afinal, se somos nós que inventamos a vida, então estamos jogados a própria sorte e criatividade.
Tendo a concordar com ele, mas não sei se com tanto otimismo, isso dependerá muito do dia e de como acordo, que em nada depende de mim.