Realidade? Ser otimista ou pessimista? Eis...
Ricardo Guarnieri
Tudo bem, eu reconheço, sou mais pessimista do que
otimista, apesar de achar que estou mais para realista puritano do que
pessimista construtivista. Otimismo nunca, a não ser quando preciso que a
humanidade não desista dela mesma, e muitas vezes isso vem na forma de um anjo
caído (é impressionante como isso cola em mim, talvez por isso pense na
psicanálise, apesar de saber que só ouvir é muito pouco, lá vou eu puritinando
outra vez...).
Aristotélicamente falando vamos entender os opostos
entre o otimismo e o pessimismo:
Otimista:
sujeito bem humorado; sempre vê saída naquilo que não existe, positivo diante
das tragédias; se está ruim, pense que poderia ser pior (é só o joelho, poderia
estar paralítico); é pobre, mas o que importa é ter uma família unida e
principalmente com saúde; para os prósperos, a crise não é o limite mas a
oportunidade para novos caminhos, descobertas, rumos, enfim, é na crise que nos
fortalecemos; quando todo mundo diz que já acabou, vem o otimista de plantão e
diz que essa é a chance que Deus está nos oferecendo para um novo recomeço,
afinal o que importa é estar vivo. Tudo bem, já me convenci, o otimismo
realmente levanta defunto, ou pelo menos os quase mortos, porque morto, morto
ficará.
Pessimista: sujeito
de mal com a vida; nunca vê uma boa saída para os problemas, ou seja, o ser
humano é mau por natureza (Deus esqueceu de nós, ou nos abandonou mesmo, o que
é o mais provável); a pobreza é a prova cabal da nossa incapacidade de vivermos
como uma grande comunidade; quando tudo está ruim, lembre-se que depois tem o
péssimo, o calamitoso, o trágico, e por fim, o fim; a crise não tem saída a não
ser a própria ruína; de nada adianta o altruísmo, afinal ou estamos apenas
alimentando o nosso ego, ou reproduzindo a pobreza enlatada e vendida como
responsabilidade social. Enfim, para ser pessimista não é muito difícil,
motivos são mils e não faltam outros mils.
Realista ou realidade: não sei se vou ser realista ou apenas dizer algumas
coisas que seriam fatos da realidade (deixo para o leitor que terá mais
inteligência para discernir, acrescentar ou mesmo retirar essas realidades do
mundo i-real apresentado aqui nesse texto mal ou bem humorado) vamos então aos
fatos:
1-
Metade ou 50% da
riqueza do mundo está sob o controle de 1% da população mundial;
2- O salário mínimo brasileiro equivale a ¼ ou 25% do
que o DIEESE considera ser o necessário para uma vida mínima;
3- O mundo produz 20% a mais de coisas que
necessitaríamos para viver, enquanto 30% da população mundial morrem por
desnutrição;
4- Com o orçamento da OTAN seria possível acabar com a
pobreza do mundo pelo menos duas vezes;
5- As armas de fogo matam mais do que qualquer doença
no mundo. Só no Brasil é assassinada uma pessoa a cada 10 minutos;
6- Ainda matamos, segregamos, empobrecemos,
dilaceramos as pessoas pela cor da pele;
7- A homofobia é uma realidade, tanto que precisamos
de leis especificas para defesa irrestrita da paz na orientação sexual;
8- As mulheres continuam sendo vilipendiadas; ganhando
menos; decepadas em seu prazer; excessivamente cobertas ou desnudadas, tudo em
nome da liberdade arcaica cultural ou das exigências do mercado;
9- Apesar de todo desenvolvimento tecnológico, uma
revolução copernicana, no qual o século XX equivaleu aos demais, nunca fomos
tão escravizados na perda do nosso tempo em detrimento do discurso da ordem e
progresso;
10-
Ao contrário do que
defende as democracias modernas em relação à liberdade de expressão, somente o
cartão de crédito e um bom limite te fará livre.
11-
O espaço não é
problema, mas é a garantia contratual e o respeito a propriedade privada que
empurra 50% da população brasileira a moradias em falésias, barracos, pontes,
especulação imobiliária, e toda sorte de um quadrado ou redondo que possa ser
chamado de “meu”.
Realidade? Ser otimista
ou pessimista? Eis...
O poeta Ferreira Gullar diz que a vida é uma
invenção, e nós podemos inventar tanto coisas boas como coisas ruins, e ele em
particular prefere inventar a vida como algo bom, bonito, belo, enfim, ele é um
otimista, porém órfão, afinal, se somos nós que inventamos a vida, então
estamos jogados a própria sorte e criatividade.
Tendo a concordar com ele, mas não sei se com tanto
otimismo, isso dependerá muito do dia e de como acordo, que em nada depende de
mim.