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domingo, 24 de abril de 2011

Se brilha é porque não é de ouro, mas se ofusca é um fusca...




Se brilha é porque não é de ouro, mas se ofusca é um fusca...
Ricardo Guarnieri


Você tem algum preconceito?
Claro. Bom, claro que sim ou claro que não?
Não sei, mas desconfio que responder a essa pergunta implica num primeiro preconceito, afinal ter que justificar alguma coisa denota toda a minha incapacidade de ter clareza de algum ponto não muito bem resolvido da minha parte.
Mas enfim, não vamos dissertar aqui nenhum tratado filosófico acerca das relações impostas e inculcadas de uma sociedade na qual sucumbem todas as consciências prematuras numa envergadura de tal modo que quando nos deparamos consigo mesmo já estamos apontando para as minorias como sujeitos diferentes, e que por isso mesmo deveríamos defendê-los, seja pelas politicas públicas de um Estado desfaceladamente corrupto e indultor de boa parte da nossa alienação quando opta por uma sociedade de classes, ou mesmo pela nossa fragilidade de olharmos sempre pela cor dos nossos preconceitos mais embotados que pouco, ou mesmo quase nada somos capazes de sozinhos intuirmos a uma nova consciência, na qual a cor, a etnia, a orientação sexual, e afins, não passem de um colorido bonito e principalmente de uma suruba que a vida nos reserva a cada expansão por nós sentida e principalmente vivida sem os medos impostos pela racionalidade da negação da fruição dos batimentos cardíacos que pulsam sempre que o nosso corpo treme e a nossa consciência nos nega, seja conscientemente ou cimentaços do subconsciente.
Mas voltemos ao chão das nossas consciências. Hoje em dia ficou muito chato ser preconceitouso, inclusive alguns deles, são crimes, por exemplo: chamar uma pessoa de preto pode ser considerado racismo; dizer que as loiras são burras em detrimento da cor dos seus cabelos pode acabar numa boa indenização por parte da inteligências dessas moças “ofendidas”; os gays também estão salvaguardados, nada de veados ou mesmo bichinhas, isso dá calunia e difamação;
Pois é, esses e outros exemplos somente se dão tamanha notoriedade graças ao mundo heterossexualizado no qual nos tranformamos. E as consequências foram muitas, e pelo que parece nem sempre muito sadia para os fortões de calça jeans apertada e blusão de couro, o que dirá dos engravatados.
Para tantas heterossexualizações nos restou a impotência, a frigidez, a monogamia, a neurose, e todas as manioses, mas não poderíamos ficar a deriva. Por isso, para todos os nossos pequenos gigantescos probleminhas?
A grande industria da ciência. O cardápio é vasto, tarjas pretas, ilicitos e muito mais daquilo que sejamos capazes de inventar para fuga das galinhas, afinal, galinha deve botar ovo para uma boa conja à espera de um milagre.
Somos hoje aquilo que chamamos de politicamente correto, pelo menos quando estamos em público, e principalmente quando esse público se refere a grande massa, nesses momento somos sempre muito sensatos, não agredimos, não xingamos, nos comportamos e quando algum imbecíl como o deputado Bor... resolve dizer o que pensa, caímos de pau em cima dele, só não literalmente, pois nos falta de oportunidades.
Não sei porque, mas penso que damos muito crédito naquilo que na verdade nem deveria ter, ou mesmo ser ouvido. Mas o show não pode parar, afinal depois de uma estupidez tamanha na qual poderíamos desmoralizar a questão e eticizá-la, o que fazemos?
Nada. Somos impelidos a beber algum refrigereco ou cerveja ofericida pelos patrocinadores.
... pausa para ph...




Ao que tudo indica somos menos preconceituosos em nossos discursos (tá certo que os carecas do ABC não pensam assim, mas em tempo __ Nem todo careca do ABC é desprovido de massa encefálica, “vulgo cinzenta, ou melhor, rosada”), esse indicativo é o da aparência, vejamos alguns casos.
1-   A Taís Araújo é uma negra, mas é muito bonita tem traços finos, nada daquele narigão, bocão.
2-  O fulano de tal apesar de ser homossexual é muito inteligente e gentil, e sem dizer que também é muito discreto.
3-  O índios hoje em dia já sabem ler e escrever, estão se civilizando.
4-  As mulheres já são capazes de fazer tudo o que os homens fazem, e com a vantagem da sutileza.
5-  Ele é nordestino, saiu lá de baixo, trabalhou nos piores empregos, comeu o pão que o diabo amassou, mas nunca se deixou corromper, e por isso é um orgulho pro seu povo, é brasileiro não desiste nunca.
6-  Nós somos velhos no corpo, mas a cabeça continua jovem (Ih, será que é essa juventude atual?).

Ao ouvir essas e outras, vejo o quanto estamos no caminho do desenvolvimento pleno da nossa sociedade que a cada dia alisa mais seus cabelos encaracolados (já nem sem mais qual era); aceitamos os homossexais como par romantico de novela, sem beijos escandalosos claro(tudo pela descrição); O etanol é inflamável (fazer o quê, esses jovens aprendem quimica só pro vestibular, depois são anistiados pela burrice educacional desse p...); enquadramos as mulheres em devoradoras mocinhas, porque afinal vilãs são más exemplos para as nossas verdadeiras guerreiras (mocinhas podem bater, já as más somente lhes restam apanhar e aceitar o único e cruel destino); São paulo vive o apagão da mão de obra caminhadura (achou que nordestino nascia em arvores e que no nordeste era tudo secura); e por fim, os velhos com os defeitos de sempre (pintos e peitos durinhos, sabe-se lá porque)...
É, realmente estamos em vias da eliminação total dos nossos velhos preconceitos que tanto nos fizeram rir com piadas lógicas e maldosas. Agora estamos caminhando para a veleidade mais sutíl e acachapante das minorias que estão sucumbindo aos valores burgueses.
Algum problema? Nenhum, afinal quem sou eu para por água no molho dos outros? Pelo menos agora, também particiapam e ganham seus trocados como toda essa política da inclusão social. “viva o bom mocismo”.
Na guerra fria existia uma realidade cindida pelo menos em duas, e tínhamos ainda a oportunidade de escolhermos o lado. Agora com tantas tramas e ramos, ficou díficil de saber aonde apita a banda, mas para isso uma única máxima:
Humanos do mundo, gozei-vos de vossas caras de caras gozadas...

quarta-feira, 6 de abril de 2011

Na cama com Rubem Alves


Na cama com Rubem Alves

Ricardo Guarnieri


Essa noite foi muito especial pra mim, tive um encontro que a tempos eu buscava, até que enfim acabou acontecendo.
Estava eu num supermercado comprando algumas coisas, coisas que nem sempre os supermercados vendem, mas de repente, quem me aparece? O Rubem Alves, pois é, ele mesmo, em alma e existência.
Bom, ainda não sei porque a surpresa, afinal, será que ele não vai a supermercados? Acho que não, pelo menos não em supermercados esfumaçados, mas enfim, conversamos sobre muitas coisas, amenidades de maneira geral.
Ele estava acompanhado, me parece que era seu filho, isso não me ficou muito claro, eu também estava, mas como não tenho muita certeza prefiro não comentar, mesmo porque, o importante aqui não são as nossas companias, mas o teor da nossa conversa, ou melhor, como ele mesmo disse, a nossa prosa.
Essa foi boa pra chuchu, proseamos de tudo um pouco, assuntos mais sérios, outros menos, ao final todas amenidades, próprias da vida.
Comecei perguntando pra ele sobre a acadêmia, e como já é de seu costume uma resposta muito educada e ácida: __ Vamos poupar nossos estômagos.- ele deve saber do que fala, afinal conviveu por muito tempo dentro de uma delas, que por sinal é muito bem quista em nosso meio.
Daí falamos sobre a política, essa foi muito boa, quando ele me perguntou: __ Você é uma pessoa séria? – e eu respondi: __ Tô tentando deixar de ser... – e ele emendou, __ Então você está quase pronto para exercê-la.
Teve um momento interessante, além de todos é claro, não estava muito claro assim, como um ace se todo claro fosse verdadeiro, mas enfim, quando falamos sobre a educação.
Perguntei.
__ Temos alguma saída dessa escola mercadoria?
Ele riu sinceramente e respondeu.
__ Claro meu amigo (fiquei feliz por me chamar de amigo imaginário), essa escola mora dentro do seu coração.
Bom, mas teve um momento alto nesse todo, apesar de desde o ínico eu estar voando nos meu sonhos, foi quando num dos corredores nos deparamos com a prateleira de coisas da roça e lá estava um pedacinho dela com um monte de sapatões.
Sentamos ali mesmo e começamos a escolher alguns e contar estórias sobre nossos sapatões, ele me confessou que adorava sair de sapatão, ia desde o culto até a universidade, isso quando não encasquetava de ir a casamentos de sapatão, contou que certa vez tinha corrido o dia todo atrás de um boi brabo, atolado até a lama... o problema era o compromisso da tardinha que esquecera, tinha uma festa chique e só tinha aquele sapatão. Rimos muito, principalmente por pensar o que será que aqueles granfinos da festa pensavam quando o cheiro da bosta de vaca subia (o cheirinho bom! ainda mais quando chove).
É!? Uma hora tínhamos que nos despedir, já lá por perto do caixa perguntei pra ele: __ E o ser humano, o que o senhor tem pra me dizer?
Serenamente, com um ar muito tranquilo ele respondeu.
__ Estou preocupado. – juro que estava muito sereno.
Então nos despedimos num abraço muito carinhoso e nos dizemos, _ _ até um dia.



Agora me ficou aqui algumas perguntas:
Por que plantamos flores?
Por que lemos e escrevemos poesias?
Por que não ficamos ao lado dos nossos amigos o quanto insistimos com os nossos chefes?
Por que fazemos mais o que odiamos do que aquilo que amamos?
Por que tantos porquês?
Não sei, mas que foi bom acordar com ti no coração, ah isso foi, bãom demais...