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domingo, 23 de outubro de 2011

Um mundo de multiplicidades; Uma vida de escolhas.



Um mundo de multiplicidades; Uma vida de escolhas.
Ricardo Guarnieri

__ Para que você existe?
Essa foi a pergunta de uma das minhas aulas num dia desses.  Escrevi na lousa e comecei caminhar pela sala, e depois de um tempo de silêncio e inquietações, escolhi a primeira estudante para começarmos as nossas reflexões.
Enquanto caminhava pela sala, podia observar no olhar daquelas meninas muitas curiosidades, algumas torcendo para serem escolhidas, mesmo fazendo tipo quando escolhida; outras pedindo pelo amor de Deus para não serem escolhidas; outras mais comentando bem baixinho que pergunta é essa, professor; e muitas outras coisas que eu nem sei dizer. Na verdade, tudo aqui são suposições, mas afinal, o que não são suposições quando se trata do mundo humano?  
Claro que tinha uma intenção. Sabia das minhas escolhas, mas a provocação deveria ser o aparte, ou então, de nada valeria minha pedagogia dialógica. Essa era inegociável.
Quando tudo parecia transcorrer normalmente, algumas mais sorridentes, outras mais pensativas, e outras também indiferentes, enfim, isso tudo não passa da minha mera interpretação de sujeito caolho e provocativo. Alguém pede a palavra e me diz:
__ Professor, quero te dizer que penso que estamos vendo muito pouco conteúdo, afinal já sabemos tão pouco, por isso gostaria que o senhor fosse mais rápido para que pudéssemos ver o maior numero de conteúdos possíveis.
Penso que foi mais ou menos isso que ela disse, mas fica em aberto essa questão, de qualquer maneira eu entendi o que ela queria dizer, ou seja, de um lado uma educação enciclopedista, conteudista, tecnicista, e na outra ponta a educação dialógica, reflexiva, libertária.
Não pude resistir, ainda mais porque me veio a cabeça dois filósofos, de um lado Kant, que dizia, “não se ensina filosofia, mas a filosofar.” E do outro, Schopenhauer, em seu “Picaretas da cátedra,” que recomendou, se quer aprender filosofia, então que vá aos originais, ou seja, leia os próprios filósofos sem a interferência de ninguém.
Pois bem, disse a ela.
__ Não poderei te ajudar, porque aqui não está em jogo um método, mas uma visão de mundo, uma escolha de como ir fazendo o mundo, lamento não poder dar conta das suas expectativas, porque isso é inegociável, mas com certeza você encontrará outros que poderão ajudá-la.
Claro que de tudo isso alguns ruídos não estão tão bem explicados, mas o que importa mesmo disso tudo é dizer que estamos num momento histórico altamente polarizado, e isso está muito evidente a meu ver.
Veja só o que disse dois pré-candidatos do partido republicano a presidência dos EUA nos últimos dias em relação aos anonymous americanizados: “Não culpe Wall Street nem os grandes bancos. Se você não é rico nem tem emprego, culpe a si mesmo.” Herman Cain, observe que em sua fala o fatalismo vem disfarçado de mérito, competência, eficiência, enfim, todos os atributos dos super sujeitos que o mundo liberal tanto sobrepujou nesse último século em relação aos seus oponentes.
Contudo, não é o que parece para o seu concorrente, ainda que novamente num golpe eufemista numa tentativa de guinada aos menos favorecidos americanos (isso sim é um eufemismo a nós do terceiro mundo!!!), “Isso é perigoso, isso é luta de classes.” Mitt Romney. Interssante, talvez com um século de atraso, mas como diz o ditado, antes tarde do que nunca.
        Enfim, aqui temos um mundo, e é bom que se diga o vencedor, ou pelo menos na aparência tem sido, digo aparência, porque quando pensamos no mundo é o máximo que conseguimos ver, não na carne, porque esse já é outro assunto, daí as suas multiplicidades.
        E é por isso que recorro novamente a pergunta inicial. __ Para que você existe? Goethe, o poeta alemão sabia muito bem o que Platão já havia nos lembrado, “Eu existo para admirar...” Não existe nada melhor do que existir para admirar, ainda que seja o sombrio, o tenebroso, o caótico, o injusto.
Daí a necessidade de recorrer a Paulo Freire, quando diz:
Os liberais chegam e enunciam a morte da história, sem que os homens e as mulheres tenham morrido. Os liberais dizem que todo mundo se tornou igual. Uma tragicidade do intelectual do terceiro mundo, como nós, é que damos aulas de pós-modernidade e convivemos com 30 milhões de miseráveis, no Brasil, que não chegaram sequer à modernidade, não passaram da tradicionalidade, da consciência mágica que eu chamei de intransitiva. Eu nego a validade desse discurso.
        É imperativo uma escolha, e essa não é simplesmente de um mundo, mas de uma vida, por isso, posso até negociar a minha sobrevivência, mas as minhas idéias jamais, e nelas estão inclusos a luta por uma história viva, por um pensamento autônomo, crítico, pelo reconhecimento dos vários mundos mas sempre sabendo por qual eu quero, luto, crio, erro, pondero, contradigo, mas jamais abandono.
        Se existem muitos lados, mas só posso ficar em um, então escolho o mundo de pessoas que somente serão mais se forem juntas, ao invés dos mais técnicos, fico com o menos e libertários, e nisso não importa quem é o vencedor. É uma questão de escolha, apenas.

                                                                                              



domingo, 9 de outubro de 2011

De Pessoa a Jobs


De Pessoa a Jobs
Ricardo Guarnieri

A pergunta é uma só, mas as respostas são muitas...
Pergunta: Qual é a melhor maneira de viver a vida?
Talvez a pergunta pudesse ser feita de outra maneira, mas de qualquer forma, essa é uma das perguntas centrais da vida humana. Filósofos, cientistas, poetas, artistas, religiosos, fofoqueiros, enfim, todos espécimes de seres humanos em algum momento se deparou, depara ou deparará com essa questão.
Por isso, vou começar essa reflexão com dois “ensinamentos que li recentemente e me motivou muito em continuar essa busca pela vida.
Primeiro com Fernando Pessoa, na alma de Álvaro de Campos: “Toda a gente que eu conheço e que fala comigo/
Nunca teve um ato ridículo, nunca sofreu enxovalho,/
Nunca foi senão príncipe - todos eles príncipes - na vida...”
        E para completar, o homotech mais famoso do século XXI, Steve Jobs, que disse o seguinte num discurso na academia (que diga-se de passagem, o rejeitou, coisas da academia caduca) dali pelas tantas em seu discurso ele diz o seguinte: “Lembrar que você vai morrer é a melhor maneira que eu conheço para evitar a armadilha de pensar que você tem algo a perder. Você já está nu. Não há razão para não seguir seu coração.”
        No primeiro ensinamento, apesar de certa arrogância do poeta, percebo uma escolha pela altivez, pela força, enfim, pela vida. Uma escolha que não cabe coadjuvante na empreitada da vida, porque nessa, apenas os “bons” sobreviverão.
        Já no segundo ensinamento, com mais sutileza e ao mesmo tempo com muita força, a escolha é pela vida, enquanto a morte não passa de um mero detalhe, afinal o que importa é a sua impressão e não aquela que podem ou farão de você. E o fato da nossa condição de nudeza é justamente o ponto forte da intuição e das escolhas do coração.
Isso vem apenas a corroborar outro ensinamento, do filósofo Pascal que diz: “O coração tem razões que a própria razão desconhece”
Dito isso, termino com as minhas questões?
É obvio que não, afinal estou vivo e enquanto estiver vivo continuarei a perguntar, acho que a Clarice Lispector já disse algo parecido.
Mas o que fazer quando um tipo Aristóteles diz que não há nada que se pense o que falemos que já não tenha sido pensado ou dito em algum lugar.
Ainda sim, ainda que não, pouco importa, pois o exercício da vida é diário e mesmo que tenhamos mil lições, cada dia é uma nova luta e para estrelar como protagonista nessa, seja como capa ou jornaleiro o importante serão as escolhas de agora.
E viva as ideias flutuantes...