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terça-feira, 15 de abril de 2014

Teatro de cachorro grande pode servir de abrigo aos pequeninos...

 

 
Teatro de cachorro grande pode servir de abrigo aos pequeninos...
Ricardo Guarnieri
“Liberdade é uma palavra que o sonho humano alimenta, não há ninguém que explique e ninguém que não entenda.”

São tantos os casos de censura, de objeções de consciência, sexismos, corporativismos, xenofobismos, enfim, de falta de liberdade que não vou nem me dar ao trabalho de listá-los, a não ser por um caso curioso.  
Como mero exemplo, me fixarei no último e mais notório, não pela importância intelectual dos personagens, mas pelo peso midiático do caso. O Datena havia sido convidado a participar do Programa do Jô, contudo de última hora foi desconvidado, com a seguinte alegação “o convite foi feito diretamente ao apresentador, mas como está fora da política da casa, não foi autorizado", ou seja, não está no padrão globo, está fora.
Não estou aqui advogando em defesa do Datena, até porque, ele não precisa de mim nem eu dele. Mas o que está em jogo aqui é o conluio dessa corja empresarial do mundo da comunicação de massa que detém o direito de concessão nesse país a mais de meio século.
           Já não é mais concessão, mas privilégio, até porque não existe alternância na direção desses grandes conglomerados de comunicação. Nesse ponto existe uma incoerência brutal, afinal, como pode um jornalismo se dizer independente se a cada inserção publicitária de 30 segundos chega ao cúmulo de custar mais de 300 mil reais? O que justificaria esse alto custo? O salário dos apresentadores do telejornal? A cooptação da verdade apurada e deturpada? Ou os muitos calam bocas em detrimento da constituição de fortuna de uma meia dúzia de famílias? São muitas as perguntas, e com certeza outras tantas respostas dissimuladoras, e sem nenhum tipo de avexamento. 
E claro, essa imprensa calhorda de massa se aproveita da ignorância quase que epidêmica da nossa população. Afinal, onde estão todos os manifestantes das marchas da esperança de 2013? O GIGANTE adormeceu novamente?
Somos um povo guerreiro? Claro que somos, afinal, não é todo país que consegue a façanha de matar mais gente num único final de semana do que em uma guerra declarada e ainda mascarar essa realidade como povo pacifico.
Somos agregadores? Também o somos, afinal para disfarçarmos o nosso preconceito racial criamos leis anti racistas. E para colocarmos nossos demônios para fora, vamos aos estádios de futebol, afinal, lá pode, “macaco, viado”, eufemismos de um povo democrático.
Somos cordiais? Nisso somos os melhores, conseguimos comer as migalhas que caem da mesa do patrão graças ao nosso bajulamento incansável. Nenhum povo consegue dissimular melhor em agradecimento ao domingo cedido a família para orarmos, rezarmos, treparmos, e voltarmos na segunda revigorado para mais uma semaninha de tripalium.
Segundo um amigo, somos um povo bunda. Discordo dele, pois bunda é bom demais pra ser usado aqui como um adjetivo ao nosso mau feito. O que somos poderia ser muita coisa – covardes, baba-ovos, recalcados, ignorantes, alienados, tolos, subservientes, cretinos, idiotas. Mas enfim, deixo para que cada brasileiro, inclusive eu...
...Pare, reflita e, honestamente diga:
Quem somos nós enquanto povo?
O Eu de nada valerá nessa questão, a não ser como ponto de partida, mas um Eu sem o Outro de nada vale, a não ser para reforçarmos o nosso ostracismo aligeirado de uma brasilidade caduca que é engolida diariamente pela falta de liberdade e barbárie que fomos forjados nesses últimos 514 anos. 
A nossa liberdade ainda tem olhares de sangue dos becos de cidadania, cheiro de casa grande protegidos por alarmes e botinas, punhos cerradas de analfabetismo, ouvidos de gritos silenciosos com meia dúzia detentora da palavra, paladares conchavistas e traidores dentro da própria senzala.
É a nossa liberdade, uma liberdade pueril que corre o risco de ficar na poeira.
 

3 comentários:

  1. "Nos perderemos entre monstros da nossa própria criação"
    Essa foi a primeira frase que me veio a cabeça ao ler seu texto, estamos na era do "Apesar de"...
    "Apesar de" toda a merda que engolimos, enlatada, via sonda, ou em barrinhas de cereais sem glúten kkk Temos copa do mundo (bem é o que estão falando por ai), temos heróis do povo, que vem da favela cantam a ostentação sem se preocupar muito com a concordância verbal.
    "Apesar de" termos uma série de manifestações meia boca o vandalismo é errado quando cometido contra um banco, mas não contra os coitados que morrem a míngua na fila do INSS.
    "Apesar de" um cristão se enfiar em templos aos berros e sair de joelhos atrás de um Papa que nunca vai fazer nada por ninguém pois já tem seu castelo de ouro, ainda temos as bundas mais bonitas, macaqueamos um inglês mais tosco pra qualquer tipo de gringo, e o borogodó nunca saiu das cadeiras.
    Só você pensa nisso e só eu talvez tenha me dado ao trabalho de comentar.
    "Apesar de" tudo isso não me canso de me irritar, ainda acredito que tem que existir um mínimo de senso crítico perdido por ai.
    "Será que vamos ter de responder, pelos erros a mais,
    eu e você?"

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  2. Vc não acredita em nada disso que escreveu se acreditasse não se daria ao trabalho de clamar tanto.
    Só li tudo pq gosto de assistir o Recalque contra a Fé mais que assistir novela....
    E olha ali... não é que apareceu.... no finalzinho.... nos comentários.

    PS: Sonhei com vc.

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  3. Eu vejo dois tipos de Liberdade, a Liberdade Social e a Liberdade Existencial.
    Muitos enxergam apenas a Liberdade Social, que permanece uma utopia enquanto a Liberdade Existencial não for alcançada, essa, não só favorece aquela, incluindo na sociedade um ser psicológicamente resolvido, mas também por opção, nos livra da dinâmica negativa de uma suposta liberdade que se faz depender da coletividade e instituições que geralmente agem apenas em favor de suas baixas conveniências...

    No Teatro de Cachorro Grande, o pequeno tem suas opções...

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