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quinta-feira, 31 de março de 2011

O rei morreu na reinvenção do bobalhão, que se lambuzou com a cara no chão...





O rei morreu na reinvenção do bobalhão, que se lambuzou com a cara no chão...

Ricardo Guarnieri


Tem uma pergunta que me inquieta sempre que entro na sala de aula: O que eu estou fazendo aqui? E logo em seguida outras questões emendam em novas teias: O que eu quero dos meus alunos? O querem eles?  E a escola, o que essa pretende?
São questões difícieis, exigem resposta não traquilizadoras, ao menos para aqueles que pensam na escola como um espaço de fazimento de vida e ressignificação do inacabamento total do humano. Já para os positivistas é tudo muito simples, afinal, gestão de qualidade e metas são o sufuciente para medir a qualidade dos pseudos vejeiros dispensáveis.
Num outro dia me lembrei de um comentário muito comum lá no interior para se referir as pessoas inteligentes., ou seja, quando alguém era muito dado aos estudos, ou então se dava bem, era chamado carinhosamente de “crânio”,  e mais, “olha só aquele sujeito, ele é um crânio”.
Puxa vida! Deveras algum sujeito humano ter condições de abrir mão do seu crânio?

Eu sei disso, como também sei o quanto essa cultura de superioridade nos faz atrasar tanto em nossos espiritos maus, tormentas que demoram a sair dos cantos da nossa cabeça, e mesmo quando dedetizados, ainda assim deixam restos por toda fresta invisível dos sentimentos que mais nos calam numa continua pertubação silenciosa, que vez ou outra nos rondam como fantasmas de metas aburguesadas, daí, só bebendo muito etna no caldeirão do caos dionísiaco.
Também sei de todo sofrimento que a inteligência tem nos deixado nesses anos todos de humanos a humanos, ou alguém realmente acredita na histórinha que nos contaram sobre a nossa liberdade de fazermos o que quisermos?
Se não fosse a eficiência, o talento, a sagacidade, o conhecimento, enfim... a competência, como poderíamos ter detonado Hiroshima e Nagasaki? Como poderíamos patentar todas as curas e qualidades de vida sob a égide da navalha do cartão de crédito? Como poderíamos decidir quem come o que e quem fica aquém? Como poderíamos ocupar um quarto de 200 m2 para que os demais ficassem em cima de uma lixão surfista, ora dropando, ora vacando? Como poderíamos acreditar que um menino de 500 mil/mês está apenas brincando de jogar futebol enquanto a massa apenas se amassa na busca da sua brincadeira do santo pão de cada dia? Como poderíamos ter no Zé toda sua santidade enquanto os milhões de anônimos morrem de raquitismo por simplesmente fazer parte da sua rotina natural e subserviente? Como poderíamos engolir tanta bomba engordulight que nos vendem diariamente e ao mesmo tampo aceitar conselhos de exercicios de subir escadas com sacolas cheias delas? Como poderíamos assistir a BBBs e ao mesmo tempo pensarmos que estamos apenas nos entretendo?



São tantas as questões que já nem me lembro mais do que faço na escola. Contudo, de uma coisa eu sei, nós cidadãos remendados das classes C e B (ATENÇÃO: A classe A não vive na terra, e a D e a E nem passaram pela terra), voltando... nós, ah! nós, quem se importa com um cidadão consumidor tão ardente pelos restos alienigenas? Ninguém, nem mesmo nós, e mesmo que nos importássemos, no primeiro suspiro, exércitos inteiros de Boners/Fatimados e  afins estariam prontos pra nos cerrar com toda sua linha cortante de vandalismos e dircursinhos factolóidianos.
Por isso, já perdi a minha esperança a muito tempo quanto a inteligência, isso é besteira. Ser inteligente é coisa de quem não quer pensar em nada, a não ser receber seu justo pagamento pela venda dos seus neurônios nos juros futuros de quaisquer especulador inescrupuloso de Wall Street de Bovespas tupiniKins...
O que eu estou fazendo aqui? Isso é demais né, é óbvio, estou recebendo meu contracheque de esperanças podres na espera de alguma batata saudável que me ofereça caridade de dia de natal, ano novo, enfim, quem sabe algum aluno não se contamine da esperança vadia...
Ainda bem que eles querem muito mais do aquilo que eu posso dar, desse modo ofereço a todos uma linda flor de anarquilópolis... sem Raul, é claro, pois no dia em que a terra já estava parada e eu ali, com a boca sem nenhum dente, esperando o cotejo sofrer, e quem sabe assim, com as cercas sem bandeiras, um homem nú a espera de um pouco de pão seco matou toda sua sede com as vestes do rei que morria por falta de súditos...
E a escola, enfim, pretendeu pretendendo toda pretenção que pretenderas algum dia de pretender pretendendo...
Escolas do mundo, Pretendei-vos!!!   

 

sábado, 19 de março de 2011

Não importa o tamanho, afinal cada um tem o seu mesmo...



Não importa o tamanho, afinal cada um tem o seu mesmo...

Ricardo Guarnieri

É impossível não se sentir diminuído quando você termina de ler um trabalho de tamanha magnitude como o de um Paulo Vergilio, ou mesmo quando você lê um aforismo de Nietzsche, ou mesmo um ensaio de tamanha profundidade em conceitos e riqueza de detalhes de Atanásio Mykonios, ou mesmo um romance do Machado de Assis, ou quem sabe um poema de Fernando Pessoa, ou melhor ainda, um Aristóteles que resiste ao tempo e espaços de tsunamis japoneses e filipinos, quem se importa então quando nos deparamos com a monstra da Clarice Lispector, o charme minucioso de Chico Buarque e o Xavier da chavadura, a elegância de Hannah Arendt, e a provocação de Antonio Abujamra? Bom, nem vou falar do tamanho que acabo me sentido, isso porque não citei ainda o tamanho de Marx, Hegel, Proust, Adélia Prado, meu querido Rubem Alves, o descascador de ostras, a safadeza da Bruna Surfistinha, puxa sei lá, são tantos os homens e mulheres fortes, mas como Dosto?, esse era invencível, mais indestrutível ainda era Pablo, aquele da isla negra, e o coração do Vinicius? No qual sempre cabia mais um amor,  Chaplin então nem se fala, Picasso, só o nome já diz tudo, Darwin era um herói, além de dislexo,.. E o Alejadinho? O Portinari, Oswald e Mario os de Andrades que revolucionaram nosso sujeito tupiniquim, tem também o Darcy da ninguendade, O Juruna das rezas, o Lampião e a Maria Bonita heróis anacronicos, a doce Maria Bethania que resolveu encarecer logo agora, o Montenegro que fala de amor como se falasse de água, O Zumbi que desacorrentou o espirito do brasileiro de Palmares, enfim...



Hoje, os jornais chamaram os usuários de trens, de selvagens e vândalos, e sabe por que? Porque a passagem subiu só 20% mais ou menos... O que é isso companheiro? Foi menos de 1,00, será que vocês não tem nada melhor do que serem chamados de selvagens e vândalos, afinal o salário mínimo subiu uns 8%... Deixem de ser ingratos, nós oferecemos tanta coisa boa pra vocês, vejam só...
Agora eu tenho certeza do meu tamanho, não vou ler mais nada que faça me diminuir, eu quero é ver o BBB, ler revista de celebridade, livro de auto-ajuda,... e com toda certeza dizer pra todo mundo que o Paulo Freire é tão demodê... 

quarta-feira, 2 de março de 2011

O mundo pergunta, mas nós não...Evitamos

        

O mundo pergunta, mas nós não...Evitamos

Ricardo Guarnieri

Ouvi uma pergunta inquietante ainda na minha adolescência, na qual Max Scheler se questionava sobre a mudança. A pergunta era mais ou menos assim...“Quem tem mais medo da mudança do que da desgraça, como fará para evitar a desgraça?”. Essa pergunta vira e mexe volta na cabeça e confesso que já me incomodou mais, porém não sei se fiquei mais maduro e a ansiedade diminuiu ou se realmente a idade tem me feito mais desistente de sonhos e revoluções...Ainda me incomodo as vezes com essa pergunta, mas hoje, quando o incômodo se torna quase insuportável, eu durmo...
        É justamente esse o ponto: Se já não tenho mais tanta esperança, se o ânimo já não é mais tão empolgante, então por que continuo a ser professor? E principalmente, por que de filosofia?
        Afinal ser professor e filosofar ainda de quebra nesse mundo tão coisificado realmente é coisa de maluco. Realmente quando paro pra pensar nisso tudo, não entendo muito bem porque o sistema paga alguém pra pensar, e pior, na maioria das vezes para falar mal do próprio sistema. Mal não, destituí-lo, essa que é a grande verdade, pelo menos são minhas idiossincrasias quanto a tudo isso.
        Como diz um amigo meu, “nós deveríamos ser muito bem pagos, afinal somos o malfeitor do sistema, ajudamos a sociedade tal como está” e eu ainda completo... não só mantemos o status quo, como convencemos os pobres que se caso eles se esforçem um dia eles chegarão lá. Na verdade não sei muito bem aonde eles chegarão, mas enfim, vamos segurando a bomba relógio do ponteiro social e enquanto isso, cantemos Raul Seixas “... e a boca escancarada cheia de dentes, esperando a morte chegar...”.   
        Voltando ao fato de ser professor de filosofia, ainda se pelo menos fosse professor de marketing ou mesmo de engenharia, pelo menos estariamos preparando as pessoas pro mercado de trabalho. Mas nós, a quem servimos? “A quem serve o vencedor”, (Camões), se assim pelo menos o fosse.

        Diante de tamanha desesperança tenho algo a dizer, na verdade verdadeira não tenho a intenção de mudar ninguém, já desisti das pessoas há muito tempo, o que eu quero mesmo é algo muito mais simples, é apenas uma coisinha... QUERO MUDAR O MUNDO! Eu sei que isso pelo menos, é muito mais simples e sensato.
Penso que essa é a minha maior motivação de continuar filosofando e não adianta me dizer que filosofar é nada, afinal o que precisaríamos seria de alguém com ação, porque filosofar é viver no mundo da lua. Ainda que esses detratores estejam certos, viver no mundo da lua não é pra qualquer um, mas apenas para as pessoas que realmente conseguem voar com os pés no chão, afinal a lei da gravidade só mesmo na cabeça daquele descabeçado do Newton que não tinha nada melhor pra fazer do que ficar roubando maçãs. Depois nós que ficamos pagando o pato por Adão ter sido curioso e nos dar de presente o pecado fundamental de vermos a Eva pelada...ainda se pelo menos valer a pena. (à conferir).
Sei que não será fácil continuar filosofando, mas se isso não der certo por muito mais tempo, vou continuar fazendo aquilo que pelo menos pra mim parece muito simples... mudar o mundo e ver que desgraça é essa afinal. E por fim, continuar perguntando as inevitáveis insustentabilidades do meu existir.