Vamos comer enquanto as moscas do outro lado se fartam com as nossas pequenezes existenciais...
Ricardo Guarnieri
Desculpe-me meu amigo por não tê-lo consultado, mas as perguntas eram necessárias e talvez você nem concorde com as respostas, ou tão pouco com as perguntas, mas não poderia fazer de outra maneira.
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É possível uma vida para além do estômago? Será que poderemos prescindir da reflexão?
A vida crítica deixou de existir há muito tempo, os indivíduos sociais se contentam, cada vez mais, com a possibilidade de não serem tragados definitivamente pelo ocaso das relações materiais...(Atanásio Mykonios, Deserto social).
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Dividir o pão ao meio é mais injusto do que comê-lo sozinho? Quais são as posições na sociedade que nos enaltece para um patamar mais solidário?
O mundo vive como se nada de fato existisse para além das necessidades banais, a não ser a própria forma imediata de satisfação, confundidas com uma suposta aura de fundamentação espiritual, conduzida pelo adestramento dos indivíduos às tarefas cotidianas sem a percepção de que algo não cheira bem no reino das relações sociais. (Atanásio Mykonios, Deserto social).
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Mas o seu final é surpreendente e esperançoso e quem quiser que o abrace, pois abraçado somos muito mais fortes e pulsantes.
Tive pensando naquelas coisas da meninice, quando acreditava piamente que poderia mudar o mundo e quando na verdade você acaba descobrindo que não sabia nem o que exatamente você queria mudar, e quando descobre alguma coisa, acaba sendo convencido de que nada será capaz de fazer, a não ser sobreviver e encher a barriga para se manter em pé e cabeça baixa...
Mas tudo bem, tinha um peão lá há muito tempo que me visitara numa idade em que nada ainda sabia, e que bom que assim o era e me deixou um safado ensinamento e que de repente encasquetou na minha cabeça logo agora: “Meu fio, é mai faci cuidá di 100 boi do que di um cabra safa...”
Vou pensar na África, na sua fome e na sua ignorância, só pra piorar um pouco mais...
Ricardo, quando dizes: "acaba sendo convencido de que nada será capaz de fazer, a não ser sobreviver e encher a barriga para se manter em pé e cabeça baixa...", esclareces a natureza do filósofo natimorto!
ResponderExcluirDeixo-lhe como última postagem a morte de todas as conversas que construímos e a poesia de Manuel. Afinal, conversar (poetizar) para quê?
O BICHO
Vi ontem um bicho
Na imundície do pátio
Catando comida entre os detritos.
Quando achava alguma coisa,
Não examinava nem cheirava:
Engolia com voracidade.
O bicho não era um cão,
Não era um gato,
Não era um rato.
O bicho, meu Deus, era um homem.
Manuel Bandeira
Meu medo de saber... é que se esse tal saber necessariamente vem acompanhado pela descrença? Só restando aceitação.
ResponderExcluirÉ a pior clausura que posso imaginar.
Ñ entendo pq interessa viver se for assim ou pra isso.
Acho que crer, para mim, é instinto de sobrevivência.
concordo e agora vejo o guarda chuva que o senhor desenhou na lousa, essa maldição é real, monstruosa, mas invencivel?
(diz que ñ)
... Concordando ou discordando, o fato é que alguns seres humanos parecem irreversíveis a ponto de se plantarem num posicionamento e não mudar mais de lá... Sei lá... e como escreveu Elisa Lucinda( os acomodados de plantão que me perdoem) mas:"Sei que não dá para mudar o começo mas, se a gente
ResponderExcluirquiser, vai dá para mudar o final"! Palavras brilhantes, Sr. Ricardo Guarnieri...